sexta-feira, 29 de junho de 2018

O professor liberal (Pablo Ortellado) e sua apologia indireta do nazismo

Foto símbolo da vitória soviética sobre o nazismo

É de notório conhecimento de quem estuda um pouco de histórica - não precisa ser muito - que existe uma operação política-ideológica de proporções mundiais atuando há mais de 70 anos que visa apagar da consciência histórica dos povos que o verdadeiro responsável pela derrota do nazifascismo foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Em países letrados com zero de analfabetismo e admirados por sua tradição intelectual, como a França, a propaganda foi tão eficiente que a maioria dos franceses acham que foram os EUA, e não a URSS, o principal responsável por derrotar o nazifascismo. Essa operação de apagamento do maior feito da história do movimento comunista no século XX é coroada com a ideologia do totalitarismo: construção teórica completamente desonesta, sem sustentação histórica e de base liberal que visa equiparar nazismo, fascismo e comunismo soviético.


A Copa do Mundo na Rússia, dentre outras coisas, está servindo para lembrar para vários povos que quem destruiu a besta nazista foi a União Soviética. Incrivelmente, até comentaristas da Globo já falaram durante a transmissão dos jogos que essa conquista é do povo soviético dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e seu líder político na época, Josef Stálin. Esse efeito é muito positivo pois nos ajuda a defender um legado que é nosso. A lamentável campanha futebolística da Alemanha na Rússia teve como efeito, a partir de piadas, lembrar que foi na pátria de Lênin, e não no "Dia D", que Hitler e sua horda de bestas tombaram. As piadas e memes, nesse caso, por incrível que pareça, têm função pedagógica!


Não sem surpresa aparece algum liberal sofrendo com esse "resgate" da história. O professor Pablo Ortellado publica um texto raivoso em seu Facebook onde os que estão fazendo piadas sobre a vitória soviética - a nossa vitória – frente ao nazismo são seres "sem consciência histórica", apoiadores da "tortura, genocídio, assassinatos, perseguição aos desistentes" etc. Para coroar o festival de anticomunismo, na cabeça do professor, lembrar a conquista soviética significa que vivemos "tempos perigosos".


Como eu sempre digo: nada para incomodar mais um liberal do que o combate - na prática ou na teoria - ao fascismo. Segundo, e mais importante, agindo como um completo desonesto [na teoria, não falo aqui no âmbito de comportamento pessoal] o Professor cria um verdadeiro espantalho: é possível reivindicar todo o legado positivo da URSS (fim da miséria, desemprego, analfabetismo, fome, combate ao racismo, apoio na luta anticolonial, avanço na emancipação da mulher etc. etc. etc.) e ser totalmente crítico aos erros e tragédias do processo soviético e de sua maior liderança: Josef Stálin. Reivindicar Stálin como um grande nome do movimento comunista, como eu faço, não significa de forma alguma não ter duras e severas críticas aos seus erros (erros historicamente localizáveis e não meramente individualizados) ou fazer apologia da morte de grandes revolucionários ou achar os campos de trabalho soviético, o famoso Gulag, um parque de diversões.


Só na cabeça de ignorantes - o que não é o caso do professor - ou canalhas se orgulhar do nosso passado significa ser um imbecil acrítico que diz amém para tudo que aconteceu em bloco como se o mundo fosse dividido entre 8 ou 80 (como falamos em Pernambuco). Não, caro professor, o mundo não é binário e no balanço do nosso passado, defender nosso legado, não significa ausência de autocrítica, reflexão e assumir erros.


O curioso é que o anticomunista que faz isso com a história soviética reivindica sem qualquer problemas o liberalismo. O mesmo liberalismo que apoiou a escravidão, o colonialismo, o extermínio de povos originários, a ausência de direitos políticos para trabalhadores, mulheres e imigrantes, jornadas de trabalho de 16h, o darwinismo social etc. etc. etc. Será o nosso professor liberal, por exemplo, um defensor da escravidão? É claro que não. Contundo, é incrível não só a falta de honestidade intelectual de seus argumentos, como esse tipo de figura gozar de prestígio no seio da esquerda brasileira.


Parto do princípio que todo anticomunista é, por definição, um inimigo de classe. O que não nega, evidentemente, algumas colaborações táticas ou até aprender com o sujeito, mas nunca esquecendo que estamos em trincheiras diferentes. O chilique anticomunista do professor prova que para o liberal, mesmo o autodeclarado de "esquerda", é possível dormir tranquilo negando todas as atrocidades do liberalismo e ajudando - direta ou indiretamente - a sancionar a barbárie nazista, mas nunca, sob hipótese alguma, reconhecer que foi o povo soviético através da sua economia planificada, Exército Vermelho, PCUS e liderança de Stálin que derrotou a máxima expressão da barbárie.