Vamos começar esse texto com uma longa
citação de Lênin do clássico “O Estado e a Revolução”:
Dá-se com a doutrina de Marx, neste momento, aquilo que, muitas vezes, através da História, tem
acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos dirigentes do
movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes revolucionários foram
sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais
feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das
classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos,
canonizá-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para
"consolo" das classes oprimidas e para o seu ludíbrio, enquanto se
castra a substância do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o gume,
aviltando-o [1]
O fenômeno que Lênin descreveu com Marx e os
demais revolucionários acontece nesse exato momento, sobre nossos olhos, com o
Partido dos Panteras Negras. Perseguidos, massacrados, tidos como radicais,
espiões soviéticos, considerados pelo FBI o maior inimigo do capitalismo
estadunidense no século XX, hoje os Panteras sofrem uma ampla operação
teórico-política de “pacificação” e “pós-modernização” da organização.
A atual consciência média dos movimentos
sociais de combate ao racismo, com forte inspiração de uma ação bem sucedida de
ONG’s imperialistas (como a Fundação Ford [2]), nega os partidos, ama os
coletivos, não é anticapitalista, defende formas de “empreendedorismo negro”,
não é materialista, está presa em formas teóricas culturalistas, repudia o
marxismo, porém adora “representatividade” como Obama na presidência do EUA, não
é internacionalista, defende comunidades exclusivamente negras não raro fala
ainda de “volta à África” etc.
Esse “espírito do tempo” projeta sua atual
forma nos Panteras Negras reescrevendo a história de acordo com as “exigências”
do presente. Não precisamos de Michel Foucault para saber que a produção de
conhecimento está organicamente ligada as disputas políticas constitutivas da
sociedade. Marx, Engels, Lênin, Gramsci, Rosa Luxemburgo etc. já nos
esclareceram isso antes do filosofo francês. Uma coisa é certa: na atual
correlação de forças, dentro da vasta diversidade do movimento negro, as
tendências marxistas ou ligadas às diversas variantes do socialismo são
minorias e o que podemos chamar de maneira genérica de culturalismo
antimarxista (sabemos da impressão do termo, mas ele é útil para demarcar um
campo não-marxista) é hegemônico.
A hegemonia desse campo se expressa num
antimarxismo que procura negar qualquer papel positivo jogado pelo movimento
comunista na luta contra o racismo, o colonialismo e o apartheid, provocando
uma das operações mais desonestas de apagamento da história já vista. Não
coincidentemente, em muitos momentos há uma aliança tácita entre setores do
movimento negro e a direita mais raivosa (e racista) na difamação do comunismo
[3]. A coisa é tão grave que chegam a negar a convicção socialista de figuras
como Thomas Sankara, Angela Davis ou Samora Machel.
O objetivo desse texto é oferecer alguns
elementos para desfazer essa “reescrita” da história dos Panteras. Não iremos
trazer nada muito revolucionário no estudo do Partido, mas selecionaremos temas
do momento – como “capitalismo negro”, forma organizativa, relação com o socialismo
etc. – e partir disso traremos documentos e trechos de discursos dos líderes
(homens e mulheres) que mostrem na prática, com documentos primários, a real posição
do Partido dos Panteras Negras sobre determinado tema (não estamos pressupondo,
de forma alguma, que os Panteras tinham posição única internamente sobre tudo;
longe disso, mas procuraremos tratar de questões mais ou menos consensuais
dentro da organização).
Sabemos que essa forma de escrita deixará o
texto longo e um pouco maçante de ler lido, mas consideramos que o recurso a
documentos primários é algo indispensável no meio de tanta distorção.
Empreendedorismo e capitalismo negro
Na
atualidade é bem comum a ideia de que a transformação nas condições de vida do
povo trabalhador negro passa pela ascensão social no capitalismo: a criação de
uma classe média e uma burguesia negra. A cantora Beyonce, em sua música
Formation, associa a estética típica dos Panteras Negras com o ideal de que o
ápice da emancipação é tornar-se um “Bill Gates negro”. Veremos o que duas
grandes lideranças dos Panteras acham disso.
Assata
Shakur, um dos maiores nomes femininos do Partido, até hoje refugiada em Cuba
porque é proibida de entrar nos EUA sob ameaça de prisão (coisa que Obama não
fez nada para mudar [4]), diz sobre a questão:
Eu entrei em acaloradas discussões com irmãos
e irmãs que falavam que a opressão do povo Preto seria apenas uma questão de raça.
É por isso que você tem Pretos apoiando Nixon ou Reagan ou outros
conservadores. “Pessoas Pretas com dinheiro sempre tenderam a apoiar candidatos
os quais eles acreditavam que iriam proteger seus interesses financeiros. Na
minha opinião, não precisou de muita inteligência para perceberem que o povo
Preto é oprimido por causa da classe, assim como da raça, porque somos pobres e
Pretos. Sempre me incomodava quando alguém falava sobre uma pessoa Preta
subindo a escada do sucesso. Sempre que você fala sobre uma escada, você está
falando sobre o topo e o fundo, uma classe superior e uma classe inferior, uma
classe rica e uma classe pobre” [5]
Constatamos o que pensa sobre a questão um
dos fundadores e maior líder da história do Partido, o grande Bobby Seale:
Nacionalistas culturais e Panteras
Negras estão em conflito
em muitas áreas. Basicamente, nacionalismo cultural vê o homem branco como opressor e
não faz nenhuma distinção entre brancos racistas e não-racistas, como os
Panteras fazem. Os nacionalistas culturais dizem que um homem negro não
pode ser um inimigo do povo negro, enquanto os Panteras
Negras acreditam que capitalistas negros
são exploradores e opressores. Embora o Partido dos Panteras
Negras acreditem no
nacionalismo negro e na cultura negra, ele não acredita que nenhum desses vai
lidar a liberação do povo negro ou acabar com o capitalismo e são, dessa forma,
inefetivos [6]
Notem que Bobby fala diretamente de
“capitalismo negro”, como Assata, e coloca a impossibilidade da libertação
negra no capitalismo e ainda afirma, com todas as negras, que o
negro explorador, isto é, capitalista, é um inimigo. Formas de ascensão social
capitalistas não são nem cogitadas – um dos motivos disso é que o Partido tinha
base negra TRABALHADORA e não nas camadas média negras do Sul dos EUA.
O Partido dos Panteras e o Empoderamento.
Segundo a camarada
Juliana Magalhães, ““Parece que o "Empowerment" surge dentro das
teorias de administração de empresas, no sentido de descentralização de poder, na
perspectiva das novas gestões surgidas a partir das teorias de um cara chamado
Elton Mayo e sua teoria das relações humanas. A ideia, dentro do contexto de
reorganização do capitalismo e em linhas gerais, era a de superar o sistema
fordista de produção e "emponderar" os trabalhadores dentro da lógica
empresarial, na medida em que o trabalho em equipe (colaboradores) era muito
mais eficiente para o bom funcionamento da empresa do que a verticalização da
organização fordista. Em outras palavras, emponderar significava trabalhador
flexível””. A despeito de sua origem, hoje, “empoderamento” surge como objetivo
de muitos grupos de “combate” ao racismo. Esse termo confuso significa muitas
coisas, porém, com certeza, nenhuma delas é a conquista do poder político.
É comum pegar imagens de membros do
Partido e mostrá-los como “empoderados”. Mas vamos ver como o Partido, através
de seu maior líder e principal fundador, Huey Newton, tratava a questão:
"Existem dois tipos de nacionalismo, o
nacionalismo revolucionário e nacionalismo reacionário. O Nacionalismo
revolucionário primeiro depende de uma revolução popular, o objetivo final é o
povo no poder. Portanto, para ser um nacionalista revolucionário você por
necessidade tem que ser socialista. Se você é um nacionalista reacionário você
não é socialista e seu objetivo é a opressão do povo." [7]
Além de
se afirmar claramente como socialista, Huey Newton coloca a meta do Partido
como a conquista do Poder! Newton não só declarava que o objetivo do Partido
era a conquista do Poder através de uma perspectiva socialista, como depois de
conhecer a República Popular da China, se convenceu que aquele era um exemplo
de emancipação social a ser seguido pelo povo trabalhador negro:
Tudo o que eu vi na China demonstrou que a
República Popular é um território livre e liberto, com um governo socialista… “Ver uma sociedade
sem classes em pleno funcionamento é inesquecível.” Assim Huey Newton descreveu
sua experiência na República Popular da China. Ele fez contrastes com suas
experiências em territórios capitalistas e na República Popular. Descreveu
costumes das “nações imperialistas” como “desumanizadores”, enquanto chamou os
costumes da República Popular de “território livre.” Também comparou a polícia
dos dois sistemas, elogiando a polícia chinesa por “servir ao povo”, enquanto
criticou a polícia americana como “um enorme grupo armada que se opõe à vontade
do povo.” [8]
Relação com o campo socialista.
É comum se afirmar
hoje que os países socialistas não só não avançaram no combate do racismo, como
negar o papel fundamental do movimento comunista na luta anticolonial. Não era
essa a visão do Partido. Se percebendo como uma comunidade colonizada –
trataremos desse ponto mais à frente – e explorada, o Partido não só mantinha
ótimas relações com as experiências socialistas como se colocava dentro do
movimento terceiro-mundista numa perspectiva anticolonial e anticapitalista
(socialista). Observemos com atenção o que Eldridge Cleaver, um dos membros
mais famosos do Partido e responsável pelas relações internacionais, diz sobre a
Coreia Popular (isso mesmo: a demonizada Coreia do Norte):
A atual visita de nossa Delegação
Anti-imperialista dos Povos dos Estados Unidos marca a inauguração pelo povo
dos Estados Unidos deste programa de Diplomacia do Povo. Acreditamos ser
adequado para nós lançar nosso programa com esta visita de solidariedade à
República Popular Democrática da Coréia, dado que foi aqui na gloriosa e
heroica RPDC a primeira vez que o imperialismo norte americano sofreu uma
derrota. Acreditamos que quando o imperialismo norte americano finalmente for
derrotado e o livro de sua história sem glórias for encerrado para sempre, se
escreverão que foi no sagrado solo do corajoso povo coreano onde foi programada
a morte e total destruição do imperialismo ianque. Nossa delegação se sente
honrada por ser recebida pelo povo coreano e que nosso programa de DIPLOMACIA
DO POVO tenha recebido apoio tão poderoso e significativo. Se todos os povos
oprimidos e revolucionários do mundo seguissem o exemplo do povo coreano,
liderados pelo perspicaz Comandante-Genial Kim Il Sung, o sempre vitorioso
Camarada Kim Il Sung, então nosso programa de DIPLOMACIA DO POVO terá enorme
sucesso, e o imperialismo estadunidense receberá um pungente e significativo
golpe [9]
Vejamos ainda sobre o tema o que disse o membro
mundialmente conhecido do Partido, Mumia Abu Jamal:
[...] Gritos de 'Nos ajudem a libertar Huey!' se misturavam com 'Salaam Aleikum, irmão!' enquanto lutávamos para vender nosso jornal.
— Irmão descubra o que está acontecendo que a estrutura da supremacia branca não irá lhe contar! Confira o The Black Panther - apenas 25 centavos!
— Irmão, você tem que se juntar ao Honorável
Elijah Muhammad e parar de seguir estes diabos como Marx e Lenin e afins.
— Bom, e você deveria se juntar ao Ministro da Defesa, Huey P. Newton e o Black Panther Party.
— Bom, e você deveria se juntar ao Ministro da Defesa, Huey P. Newton e o Black Panther Party.
— Vocês deveriam seguir um homem negro,
irmão, e não estes judeus Marx e Lenin!
— Nós somos revolucionários, irmão, e
estudamos os revolucionários do mundo. Não importa para nós de qual etnia eles
sejam.
— Posso ver isso, irmão - olhando para uma cópia de The Black Panther, apontando para uma foto da capa de um homem asiático. Quem é esse, irmão?
— Posso ver isso, irmão - olhando para uma cópia de The Black Panther, apontando para uma foto da capa de um homem asiático. Quem é esse, irmão?
— Esse é Kim Il Sung, líder da Coreia do
Norte, e um revolucionário.
— Entende o que estou falando, irmão? Mais uma vez vocês falando sobre outro cara! Ele não tem nada a dizer para o povo negro, irmão!
— Bom, se é assim, irmão, por que ele está no seu jornal Muhammad Speaks?'
— Do que você está falando, irmão? - ele perguntou, aparentemente atordoados com a questão.
— Entende o que estou falando, irmão? Mais uma vez vocês falando sobre outro cara! Ele não tem nada a dizer para o povo negro, irmão!
— Bom, se é assim, irmão, por que ele está no seu jornal Muhammad Speaks?'
— Do que você está falando, irmão? - ele perguntou, aparentemente atordoados com a questão.
Eu li e estudei o jornal dele com
bastante regularidade, pelo seu layout, notícias e comentários, mas eu duvidei
que ele já tinha lido algum dos nossos. Isto parecia óbvio para alguém
designado ao Ministério de Informação da Costa Leste, e me lembrei de ter lido
a edição desta semana do Muhammad Speaks.
— Veja aí, irmão, na seção de notícias internacionais.
Desacreditado, ele revirou as páginas até que apareceu um artigo com a foto do Kim Il Sung. Ele olhou para ela, e virou pra mim, sorrindo.
— Sim, senhor, irmão. uhum.
Desacreditado, ele revirou as páginas até que apareceu um artigo com a foto do Kim Il Sung. Ele olhou para ela, e virou pra mim, sorrindo.
— Sim, senhor, irmão. uhum.
— E o que aprendemos dele foi a ideia
Juche, uma palavra coreana que significa autoconfiança!
Para um Pantera comum, ainda que trabalhássemos
diariamente nos guetos negros dos Estados Unidos, seu pensamento normalmente
estava em algo maior do que si mesmo. Significava ser parte de um movimento
mundial contra o Imperialismo norte-americano, a supremacia branca,
colonialismo, e o capitalismo. Sentíamos como se fôssemos parte do exército
camponês do Vietnã, dos mineiros negros da África do Sul, os Fedayin
palestinos, a efervescência estudantil em Paris, e os sem-terra da América
Latina.
[10]
[10]
Resta ainda sobre esse tema um ponto
fundamental. A Internacional Comunista (ou Terceira Internacional) ao começar a
sua formulação sobre a questão negra considerou a opressão racial em termos de
opressão nacional colonialista. Nos EUA a comunidade negra seria uma minoria
nacional oprimida por uma potência imperialista e racista, e uma das bandeiras
principais da luta do povo negro deveria ser sua emancipação nacional, isto é,
formar um Estado-nação a parte [11]. Em que pese os problemas dessa visão da
questão racial, é mais que interessante notar como ela influenciou o Partido
dos Panteras na organização política da
comunidade negra como uma minoria nacional colonizada. Diz um dos panfletos
distribuídos nos guetos:
'DEFENDA
O GUETO’
EM
NOSSA LUTA POR LIBERTAÇÃO NACIONAL, estamos agora no estágio de libertação das
comunidades. Para libertar nossas comunidades negras do controle imperialista
exercido sobre elas pelos grupos racistas e exploradores no interior das
comunidades brancas, para libertar nosso povo, trancado nas Masmorras Urbanas,
do imperialismo dos bairros brancos.
A NOSSA
LUTA É contra o Imperialismo nas Comunidades. Nossas comunidades negras são
colonizadas e controladas por fora, e é este controle que necessita ser
esmagado, quebrado, despedaçado, por quaisquer meios necessários.
A
POLÍTICA NAS NOSSAS COMUNIDADES é controlada por fora, a economia nas nossas
comunidades é controlada por fora, e nós mesmos somos controlados pela polícia
racista que vem de fora às nossas comunidades e as ocupa, patrulha, aterroriza,
e brutaliza nosso povo como um exército estrangeiro numa terra conquistada.
O PARTIDO DOS PANTERAS NEGRAS É A ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA QUE LUTA PARA LIBERTAR NOSSO POVO DA OPRESSÃO, POR MEIOS POLÍTICOS E FÍSICOS. NÓS PRECISAMOS NOS ORGANIZAR, E PRECISAMOS NOS DEFENDER. --- JUNTE-SE AO PARTIDO DOS PANTERAS NEGRAS[12].
O PARTIDO DOS PANTERAS NEGRAS É A ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA QUE LUTA PARA LIBERTAR NOSSO POVO DA OPRESSÃO, POR MEIOS POLÍTICOS E FÍSICOS. NÓS PRECISAMOS NOS ORGANIZAR, E PRECISAMOS NOS DEFENDER. --- JUNTE-SE AO PARTIDO DOS PANTERAS NEGRAS[12].
O famoso “Programa dos Dez pontos”, um dos
documentos políticos mais conhecidos do século XX, o ethos de comunidade
nacional oprimida pelo imperialismo aparece do começo ao fim:
10 PONTOS DO PROGRAMA DO PARTIDO PANTERA
NEGRA
O que nós queremos.
O que nós acreditamos.
O que nós acreditamos.
1- Queremos liberdade. Queremos o poder para determinar o
destino de nossa Comunidade Negra.
Nós acreditamos que o povo preto não será livre até que nós
sejamos capazes de determinar nosso destino.
2- Queremos emprego para nosso povo.
Nós acreditamos que o governo federal é responsável e
obrigado a dar a cada homem emprego e renda garantida. Nós acreditamos que se o
homem de negócios americano branco não nos dá emprego, então os meios de
produção devem ser tomados dos homens de negócios e ser colocados na comunidade
de modo que o povo da comunidade possa organizar e empregar todas as pessoas e
dar-lhes um padrão elevado de vida.
3- Precisamos acabar com a exploração do homem branco na
Comunidade Negra.
Nós acreditamos que este governo racista tem nos explorado e agora nós estamos demandando a quitação do débito de quarenta acres de terra e duas mulas. Quarenta acres e duas mulas foram prometidos 100 anos atrás em restituição pelo trabalho escravo e assassinato em massa do povo preto. Nós aceitaremos o pagamento em moeda corrente, que será distribuída às nossas muitas comunidades. Os Alemães estão agora reparando os Judeus em Israel pelo genocídio do povo Judeu. Os Alemães assassinaram seis milhões de Judeus. O Racista Americano tomou parte no massacre de mais de vinte milhões de pessoas pretas; conseqüentemente, nós sentimos que esta é uma demanda modesta que nós fazemos.
4- Nós queremos moradia, queremos um teto que seja adequado para abrigar seres humanos.
Nós acreditamos que se os senhores de terra brancos não dão moradia descente para a nossa comunidade negra, então a moradia e a terra devem ser transformadas em cooperativas de maneira que nossa comunidade, com auxílio governamental, possa construir e fazer casas descentes para as pessoas.
5- Nós queremos uma educação para nosso povo que exponha a verdadeira natureza da decadente sociedade Americana. Queremos uma educação que nos mostre a verdadeira história e a nossa importância e papel na atual sociedade americana.
Nós acreditamos em um sistema educacional que dê a nossos povos um conhecimento de si mesmo. Se um homem não tiver o conhecimento de si mesmo e de sua posição na sociedade e no mundo, então tem pouca possibilidade relacionar-se com qualquer outra coisa.
Nós acreditamos que este governo racista tem nos explorado e agora nós estamos demandando a quitação do débito de quarenta acres de terra e duas mulas. Quarenta acres e duas mulas foram prometidos 100 anos atrás em restituição pelo trabalho escravo e assassinato em massa do povo preto. Nós aceitaremos o pagamento em moeda corrente, que será distribuída às nossas muitas comunidades. Os Alemães estão agora reparando os Judeus em Israel pelo genocídio do povo Judeu. Os Alemães assassinaram seis milhões de Judeus. O Racista Americano tomou parte no massacre de mais de vinte milhões de pessoas pretas; conseqüentemente, nós sentimos que esta é uma demanda modesta que nós fazemos.
4- Nós queremos moradia, queremos um teto que seja adequado para abrigar seres humanos.
Nós acreditamos que se os senhores de terra brancos não dão moradia descente para a nossa comunidade negra, então a moradia e a terra devem ser transformadas em cooperativas de maneira que nossa comunidade, com auxílio governamental, possa construir e fazer casas descentes para as pessoas.
5- Nós queremos uma educação para nosso povo que exponha a verdadeira natureza da decadente sociedade Americana. Queremos uma educação que nos mostre a verdadeira história e a nossa importância e papel na atual sociedade americana.
Nós acreditamos em um sistema educacional que dê a nossos povos um conhecimento de si mesmo. Se um homem não tiver o conhecimento de si mesmo e de sua posição na sociedade e no mundo, então tem pouca possibilidade relacionar-se com qualquer outra coisa.
6. Nós queremos que todos os homens negros sejam isentos do
serviço militar.
Nós acreditamos que o povo preto não deve ser forçado a lutar no serviço militar para defender um governo racista que não nos protege. Nós não lutaremos e mataremos os povos de cor no mundo que, como o povo preto, estão sendo vitimizados pelo governo racista branco da América. Nós nos protegeremos da força e da violência da polícia racista e das forças armadas racista, por todos os meios necessários.
Nós acreditamos que o povo preto não deve ser forçado a lutar no serviço militar para defender um governo racista que não nos protege. Nós não lutaremos e mataremos os povos de cor no mundo que, como o povo preto, estão sendo vitimizados pelo governo racista branco da América. Nós nos protegeremos da força e da violência da polícia racista e das forças armadas racista, por todos os meios necessários.
7. Nós queremos o fim imediato da brutalidade policial e
assassinato do povo preto.
Nós acreditamos que nós podemos terminar a brutalidade da polícia em nossa comunidade preta organizando grupos pretos de autodefesa que são dedicados a defender nossa comunidade preta da opressão e da brutalidade racista da polícia. A segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos dá o direito de portar armas. Nós acreditamos conseqüentemente que todo o povo preto deve se armar para a autodefesa.
Nós acreditamos que nós podemos terminar a brutalidade da polícia em nossa comunidade preta organizando grupos pretos de autodefesa que são dedicados a defender nossa comunidade preta da opressão e da brutalidade racista da polícia. A segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos dá o direito de portar armas. Nós acreditamos conseqüentemente que todo o povo preto deve se armar para a autodefesa.
8. Nós queremos a liberdade para todos os homens pretos
mantidos em prisões e cadeias federais, estaduais e municipais.
Nós acreditamos que todas as pessoas pretas devem ser
liberadas das muitas cadeias e prisões porque não receberam um julgamento justo
e imparcial.
9. Nós queremos que todas as pessoas pretas quando trazidos a julgamento sejam julgadas na corte por um júri de pares do seu grupo ou por pessoas de suas comunidades pretas, como definido pela Constituição dos Estados Unidos.
Nós acreditamos que as cortes devem seguir a Constituição dos Estados Unidos de modo que as pessoas pretas recebam julgamentos justos. A 14ª emenda da Constituição dos ESTADOS UNIDOS dá a um homem o direito de ser julgado por pares de seu grupo. Um par é uma pessoa com um acumulo econômico, social, religioso, geográfico, ambiental, histórico e racial similar. Para fazer isto a corte será forçada a selecionar um júri da comunidade preta de que o réu preto veio. Nós fomos, e estamos sendo julgados por júris todo-brancos que não têm nenhuma compreensão "do raciocínio do homem médio" da comunidade preta.
10. Nós queremos terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz. E como nosso objetivo político principal, um plebiscito supervisionado pelas Nações-Unidas a ser realizado em toda a colônia preta no qual só serão permitidos aos pretos, vítimas do projeto colonial, participar, com a finalidade de determinar a vontade do povo preto a respeito de seu destino nacional [13]
9. Nós queremos que todas as pessoas pretas quando trazidos a julgamento sejam julgadas na corte por um júri de pares do seu grupo ou por pessoas de suas comunidades pretas, como definido pela Constituição dos Estados Unidos.
Nós acreditamos que as cortes devem seguir a Constituição dos Estados Unidos de modo que as pessoas pretas recebam julgamentos justos. A 14ª emenda da Constituição dos ESTADOS UNIDOS dá a um homem o direito de ser julgado por pares de seu grupo. Um par é uma pessoa com um acumulo econômico, social, religioso, geográfico, ambiental, histórico e racial similar. Para fazer isto a corte será forçada a selecionar um júri da comunidade preta de que o réu preto veio. Nós fomos, e estamos sendo julgados por júris todo-brancos que não têm nenhuma compreensão "do raciocínio do homem médio" da comunidade preta.
10. Nós queremos terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz. E como nosso objetivo político principal, um plebiscito supervisionado pelas Nações-Unidas a ser realizado em toda a colônia preta no qual só serão permitidos aos pretos, vítimas do projeto colonial, participar, com a finalidade de determinar a vontade do povo preto a respeito de seu destino nacional [13]
Amor ao coletivo, ódio ao Partido
O “espírito do tempo” nutre um ódio visceral
à organização na forma-partido. Só um cego não percebe que parte de ódio é
fruto de experiências concretas ruins com as organizações do campo
“democrático-popular”. Anos de aparelhismo, cooptação, práticas quase de
gangsterismo, rebaixamento de pautas, direcionamento das lutas para fins
eleitorais pelo PT, PCdoB, PSB etc. deixam sequelas inegáveis, além de todo o
amplo espectro ideológico pós-moderno que nega a forma-partido e louva o
movimento social e o coletivo.
Então, ao mesmo tempo em que existe uma
grande tarefa histórica dos partidos comunistas em mostrar que as experiências
negativas com o campo “democrático-popular” não nos devem fazer negar a
forma-partido em si, temos que explicitar todos os limites das concepções
pós-modernas de organização política. Pouco tempo atrás escrevi um texto sobre
liberdade e democracia interna numa organização político-partidária combatendo,
justamente, a lenda de que o centralismo-democrático é essencialmente
autoritário [14].
Pois bem, o Partido dos Panteras Negras era
regido pelo centralismo-democrático. Centralismo entendido como unidade na
ação, isto é, internamente existe a mais firme disciplina aliado ao mais amplo
debate democrático combinado com a ação política unitária, coesa, e organizada.
No documento sobre as regras do Partido que postaremos abaixo, o sentido
fortemente disciplinar, centralista e democrático faz-se evidente:
As regras são:
1. Nenhum membro pode ter narcóticos ou maconha
em sua posse enquanto realiza trabalho do partido.
2. Qualquer membro flagrado usando narcóticos
será expulso do partido.
3. Nenhum membro pode estar bêbado quando realizar trabalho diário do partido.
3. Nenhum membro pode estar bêbado quando realizar trabalho diário do partido.
4. Nenhum membro violará regras sobre trabalhos
do diretório, reuniões gerais do Partido dos Panteras Negras e encontros do
Partido em qualquer lugar.
5. Nenhum membro do partido irá usar, apontar ou
disparar uma arma de qualquer tipo desnecessária ou acidentalmente em qualquer
um.
6. Nenhum membro do partido pode ingressar em
qualquer outra força militar além do Exército de Libertação Negra.
7. Nenhum membro pode estar sob a posse de uma
arma enquanto bêbado ou após o uso de narcóticos ou maconha.
8. Nenhum membro do partido cometerá qualquer
crime contra outros membros ou população negra em geral, e não poderá furtar ou
tomar do povo, nem mesmo uma agulha ou pedaço de linha.
9. Quando presos, membros do Panteras Negras
fornecerão apenas nome, endereço, e assinarão nada. Noções jurídicas básicas
devem ser entendidas por todos do partido.
10. O Programa dos Dez Pontos e a plataforma do
Partido dos Panteras Negras devem ser conhecidos e entendidos por cada membro.
11. Comunicações do partido devem ser nacionais e
locais.
12. O programa 10-10-10 deveria ser conhecido e
também entendido por todos os membros.
13. Todos os secretários de finança operarão sob
a jurisdição do Ministério de Finanças.
14. Cada pessoa apresentará um relatório sobre o
trabalho diário.
15. Cada Líder de Subseção, Líder de Seção,
Tenente e Capitão deverá fornecer relatórios diários de trabalho.
16. Todos os Panteras devem aprender a operar e
realizar a manutenção de armas corretamente.
17. Todo membro de Liderança que expulsar um
membro deverá submeter esta informação ao Editor do Jornal, para que seja
publicado no periódico e sabido por todas as filiais e células.
18. Aulas de Educação Política são obrigatórias
para filiação no geral.
19. Apenas membros de diretório designados para
suas respectivas unidades a cada dia devem estar lá. Todos os outros devem
vender jornais nas brigadas ou realizar trabalho de base na comunidade,
incluindo Capitães, Líderes de Seções etc.
20. COMUNICAÇÕES - Todas as filiais devem
fornecer relatórios semanais por escrito à Sede Nacional.
21. Todas as unidades devem implementar Primeiros
Socorros e/ou Auxílio Médico.
22. Todas as filiais, unidades e componentes do
Partido dos Panteras Negras devem apresentar Relatório Financeiro mensal para o
Ministério de Finanças, e também ao Comitê Central.
23. Todos em posição de liderança devem ler um
mínimo de duas horas por dia para se manter a par da conjuntura política atual.
24. Nenhuma filial ou unidade deve aceitar
doações, fundos de pobreza, dinheiro ou qualquer outra ajuda de qualquer
agência governamental sem consultar a Sede Nacional.
25. Todas as filiais devem aderir à política e
ideologia estabelecidas pelo Comitê Central do Partido dos Panteras Negras.
26. Todas as unidades devem fornecer relatórios
semanais por escrito às suas respectivas filiais.
3 regras principais de
disciplina:
1. Obedeça ordens em todas as suas ações.
2. Não tome uma única agulha ou pedaço de linha das massas pobres e oprimidas.
3. Entregue tudo capturado do inimigo em confronto [15]
2. Não tome uma única agulha ou pedaço de linha das massas pobres e oprimidas.
3. Entregue tudo capturado do inimigo em confronto [15]
Enfim,
concluindo o texto, esperamos muito que com tudo que escrevemos e a partir
desses documentários primários e mais alguns que vamos deixar nas referências
[16] um pequeno passo seja dado no combate a “pós-modernização” do Partido dos
Panteras Negras. A defesa do legado socialista, anticolonial e
internacionalista dos Panteras é tarefa teórica e política indispensável de
todo comunista!
[1] – https://www.marxists.org/portugues/lenin/1917/08/estadoerevolucao/cap1.htm
[2] - http://resistir.info/chossudovsky/comunicacao_serpa.html
[3] – O site Portal Conservador divulga com orgulho o livro de Carlos Moore, por exemplo: http://portalconservador.com/livros/Carlos-Moore-Marxismo-e-a-Questao-Racial.pdf
[3] – O site Portal Conservador divulga com orgulho o livro de Carlos Moore, por exemplo: http://portalconservador.com/livros/Carlos-Moore-Marxismo-e-a-Questao-Racial.pdf
[4] – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/38946/eua+cuba+e+o+problema+do+perdao+a+assata+shakur.shtml
[5] –https://assatashakurpor.wordpress.com/2016/06/17/texto-assata-shakur-sobre-socialismo-e-comunismo/
[8] – Newton Reader (New
York: Seven Sories Press, 2002, 51).
[10] – Excerto de "We Want Freedom: A Life in the Black
Panther Party", autobiografia de Mumia Abu Jamal.
[11] – Sobre a
interpretação da IC da questão racial: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo249artigo139artigo212artigo5.pdf
[12] – Panfleto
original em inglês.
[13] – http://conscienciarevolucionaria-kassan.blogspot.com.br/2009/06/10-pontos-da-plataforma-e-programa-dos.html
[14] – http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2016/01/o-autoritarismo-e-sua-outra-face.html
[16] – Arquivo com
vários documentos dos Panteras (em inglês): https://www.prisoncensorship.info/archive/etext/bpp/