Foto símbolo da vitória soviética sobre o nazismo |
É de notório conhecimento de
quem estuda um pouco de histórica - não precisa ser muito - que existe uma
operação política-ideológica de proporções mundiais atuando há mais de 70 anos
que visa apagar da consciência histórica dos povos que o verdadeiro responsável
pela derrota do nazifascismo foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
- URSS. Em países letrados com zero de analfabetismo e admirados por sua
tradição intelectual, como a França, a propaganda foi tão eficiente que a
maioria dos franceses acham que foram os EUA, e não a URSS, o principal
responsável por derrotar o nazifascismo. Essa operação de apagamento do maior
feito da história do movimento comunista no século XX é coroada com a ideologia
do totalitarismo: construção teórica completamente desonesta, sem sustentação
histórica e de base liberal que visa equiparar nazismo, fascismo e comunismo
soviético.
A Copa do Mundo na Rússia,
dentre outras coisas, está servindo para lembrar para vários povos que quem
destruiu a besta nazista foi a União Soviética. Incrivelmente, até
comentaristas da Globo já falaram durante a transmissão dos jogos que essa
conquista é do povo soviético dirigido pelo Partido Comunista da União
Soviética (PCUS) e seu líder político na época, Josef Stálin. Esse efeito é muito
positivo pois nos ajuda a defender um legado que é nosso. A lamentável campanha
futebolística da Alemanha na Rússia teve como efeito, a partir de piadas,
lembrar que foi na pátria de Lênin, e não no "Dia D", que Hitler e
sua horda de bestas tombaram. As piadas e memes, nesse caso, por incrível que
pareça, têm função pedagógica!
Não sem surpresa aparece algum
liberal sofrendo com esse "resgate" da história. O professor Pablo
Ortellado publica um texto raivoso em seu Facebook onde os que estão fazendo
piadas sobre a vitória soviética - a nossa vitória – frente ao nazismo são
seres "sem consciência histórica", apoiadores da "tortura,
genocídio, assassinatos, perseguição aos desistentes" etc. Para coroar o
festival de anticomunismo, na cabeça do professor, lembrar a conquista
soviética significa que vivemos "tempos perigosos".
Como eu sempre digo: nada para
incomodar mais um liberal do que o combate - na prática ou na teoria - ao
fascismo. Segundo, e mais importante, agindo como um completo desonesto [na
teoria, não falo aqui no âmbito de comportamento pessoal] o Professor cria um
verdadeiro espantalho: é possível reivindicar todo o legado positivo da URSS
(fim da miséria, desemprego, analfabetismo, fome, combate ao racismo, apoio na
luta anticolonial, avanço na emancipação da mulher etc. etc. etc.) e ser
totalmente crítico aos erros e tragédias do processo soviético e de sua maior
liderança: Josef Stálin. Reivindicar Stálin como um grande nome do movimento
comunista, como eu faço, não significa de forma alguma não ter duras e severas
críticas aos seus erros (erros historicamente localizáveis e não meramente
individualizados) ou fazer apologia da morte de grandes revolucionários ou
achar os campos de trabalho soviético, o famoso Gulag, um parque de diversões.
Só na cabeça de ignorantes - o
que não é o caso do professor - ou canalhas se orgulhar do nosso passado
significa ser um imbecil acrítico que diz amém para tudo que aconteceu em bloco
como se o mundo fosse dividido entre 8 ou 80 (como falamos em Pernambuco). Não,
caro professor, o mundo não é binário e no balanço do nosso passado, defender
nosso legado, não significa ausência de autocrítica, reflexão e assumir erros.
O curioso é que o anticomunista
que faz isso com a história soviética reivindica sem qualquer problemas o
liberalismo. O mesmo liberalismo que apoiou a escravidão, o colonialismo, o
extermínio de povos originários, a ausência de direitos políticos para
trabalhadores, mulheres e imigrantes, jornadas de trabalho de 16h, o darwinismo
social etc. etc. etc. Será o nosso professor liberal, por exemplo, um defensor
da escravidão? É claro que não. Contundo, é incrível não só a falta de
honestidade intelectual de seus argumentos, como esse tipo de figura gozar de
prestígio no seio da esquerda brasileira.
Parto do princípio que todo
anticomunista é, por definição, um inimigo de classe. O que não nega,
evidentemente, algumas colaborações táticas ou até aprender com o sujeito, mas
nunca esquecendo que estamos em trincheiras diferentes. O chilique
anticomunista do professor prova que para o liberal, mesmo o autodeclarado de
"esquerda", é possível dormir tranquilo negando todas as atrocidades
do liberalismo e ajudando - direta ou indiretamente - a sancionar a barbárie
nazista, mas nunca, sob hipótese alguma, reconhecer que foi o povo soviético
através da sua economia planificada, Exército Vermelho, PCUS e liderança de
Stálin que derrotou a máxima expressão da barbárie.