Jornal
do Bancario, ano 3, Nº 4, 1962.
NA CAPITAL SOVIÉTICA
Asdrubal A. de Assis.
Ao saltarmos do avião um grupo de sindicalistas sovié-
ticos nos dá as boas vindas e noz conduz à sala de es-
pera do aeroporto, enquanto desembarcam nossa ba-
gagem. A comissão de recepção inclúe intérpretes de
portu-
guês, que se põem à nossa disposição para os
entendimentos
com os companheiros locais. Nosso grupo, composto de
dife-
rentes categorias profissionais, será conduzido ao
hotel por co-
merciários de Moscou que estão ali para nos acolher.
Como
não temos "visto" soviético, deixamos nossos
passaportes para
regularização e devolução posterior. Não passamos,
porém, por
No trajeto para a cidade, conversamos com os
soviéticos
que nos acompanham no ônibus. O jornalista carioca que
via-
jou conosco desde o Rio expõe à intérprete Ana seu
plano de
uma série de reportagens focalizando aspectos da vida
sovié-
tica. O papel da mulher na sociedade socialista, por
exemplo,
lhe parece um tema fascinante. Confessa, em seguida,
que jul-
ga a mulher soviética pouco feminina. Perguntam-lhe
qual a
participação da mulher brasileira no movimento
sindical e a
razão da ausência de mulheres na nossa delegação.
Admite que
a mulher tem participação pouco ativa na política e no
movi-
mento sindical, explicando que os encargos domésticos
absor-
vem todo o seu tempo. As soviéticas presentes acham
que isto
implica em reduzir a mulher a uma posição subalterna
na
sociedade. A soviética é dona de casa e ao mesmo tempo
cida-
dã interessada, tanto quanto o homem, nos problemas da
atualidade.
Estamos agora entrando na cidade. As edificações se
aden-
sam e ao longo da extensa avenida erguem-se grandes
blocos
de apartamentos residenciais, com lojas no térreo. Os
letreiros
em caracteres cirílicos passam velozes diante da
vidraça do
ônibus fechado: Farmácia, Cabeleireiro; Mercearia;
Calçados;
Moda Feminina, etc. As vitrines são bonitas, bem
iluminadas
e há uma profusão de anúncios a gás néon. Cruzamos
agora
uma ponte e entramos na zona urbana propriamente dita.
Lo-
go estamos no centro e nos apeando diante do
"Hotel Moscou"
em cujo "hall" funciona o comité de
credenciais do V
Congresso Sindical Mundial, conclave que nos trouxe a
Moscou.
Dentro de meia hora, já munidos de cartão de
identidade,
pasta de congressista, etc. seguimos para o
"Hotal Budapest",
também no centro da cidade, não muito distante do
"Teatro
Bolshoi", segundo verifico depois. Lá já nos
espera nossa ba-
gagem e distribuimo-nos pelos aposentos que nos foram
reser-
vados. A ordem é descer dentro de poucos minutos para
jantar.
Desço portualmente e me encaminho para a sala de re-
feições, grande, com colunas decoradas com dourados e
lustres
de cristal pendentes do teto. Uma orquestra toca música
de
dança. Garçons circulam entre as mesas. A delegação
brasilei-
ra ocupa varias, juntas, formando uma única mesa
comprida.
O jantar, servido "à table d'hôte", inclue
vários pratos: anti-
paspo, sopa, paixe, assados e sobremesa. Sôbre as
mesas, fru-
teiras de pé, em vidro colorido, cheias de maçãs e
tangerinas,
ambas pequenas. Pão branco, manteiga, água mineral,
gasosas
de frutas, vinho branco da Georgia, tinto da Criméia,
e vodka
em pequenos cálices completam o cardápio com que somos
recebidos em nossa primeira noite em Moscou. Noto que
a
vodka não é servida na garrafa original, nem
diretamente tra-
zida nos cálices, mas numa garrafinha de vidro
lapidado, como
um licoreiro, contendo uma dose avantajada de bebida,
que
custa caro para desenrorajar os abusos. País de clima
frio,
a URSS não pde aboliar o consumo de bebidas
alcoólicas. Resta
às autoridades o recurso da elevação do preço como
maneira
de coibir excessos.
O café é geralmente servido à moda turca: água quente
adicionada ao pó, sem coar. A bebida é turva, sendo
preciso
deixá-la sentar no fundo para nãose beber o pó. A
xícara fica
com um depósito de um dedo, o que para o nosso paladar
é
intragável. Mas tudo é questão de gôsto, pois vi um
soviético
degustar o seu café turco e em seguida saborear o
pasinho com
a colher...
O café expresso, tipo italiano, também é consumido na
URSS. Passei de ônibus diante de um local onde era
servido
e fiquei de volta para experimentar um cafesinho
curto, mas
outros compromissos me impediram de fazê-lo. A propósito,
is-
ti de ensinar o soviético a tomar café me parece um
troço meio
cretino, pois cada povo toma seu café de maneira que
melhor
lhe parece. Nos EE.UU. o café é tão fraco que ao ser
despejado
na xíraca dá a impressão de chá, entretanto é como os
ameri-
canos o apreciam e ingerem em larga escala, para
imensa sa-
tisfação nossa. Depois de quatro mêses tomando êsse
café, ter-
minei por me habituar ao seu paladar a ponto de ao
voltar
para o Brasil achar o nosso demasiado forte e amargo.
Não sei
se por ser o café nos EE.UU. mais fraco é que tanta
gente lá
tem o hábito de toma-lo sem açúcar, o que também para
o
meu gôsto é insuportável.
Creio que temos um grande mercado consumidor para o
café brasileiro nos 220 milhões de soviéticos,
independente-
mente do processo utilizado para prepará-lo: à moda
turca, à
italiana, à americana, à brasileira, ao paladar enfim
de cada
um. O importante é beber café e que seja do Brasil.
Aliás, ob-
servei grande consumo na URSS. Nos restaurantes,
fábricas,
onde quer que chegássemos, sempre nos serviam café.
Como
bom patriota, tinha sempre que topar o café, pois
brasileiro
que não gosta de café é um negócio difícil de explicar
lá fora.
espero que requira aprovação prévia como bom stalinista, meu face está bloqueado, meu email é leo_lp3@live.com responda para ele as paradas (eu esqueci de salvar teu email e aí não tenho acesso ao inbox)
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