Trabalho apresentado ao Segundo
Congresso Internacional, "Marx em Maio"
Roger Keeran e Thomas Kenny
Roger Keeran e Thomas Kenny
Link original da matéria: http://choldraboldra.blogspot.com/2014/05/o-colapso-da-uniao-sovietica-revisitado.html?fbclid=IwAR1t-m1TflhgaRbVbnrNS-YFFTdsuiCrjqJl6IAv0ZPw2G_rLo9MVJSCu7w
Símbolo clássico da URSS |
Em 2004, Thomas Kenny e eu
escrevemos o livro O Socialismo Traído: Por trás
do colapso da União Soviética. Desde esse ano, o
livro foi publicado e resenhado na Bulgária, Rússia, Irã, Turquia, Grécia,
Portugal, França, Cuba e Espanha. Juntos ou separadamente, os autores
participaram em debates sobre o livro na Grécia, Portugal, França e Cuba, e
foram publicadas várias críticas em jornais de esquerda. Nesta exposição, Kenny
e eu queremos responder a dois tipos de críticas e a uma questão suscitadas
pelo livro. Nele desenvolvemos uma explicação do colapso da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Usamos as palavras "colapso"
e "traído" no título, apesar das possíveis conotações equívocas de
ambas as palavras.
No entanto não se levantaram
dúvidas sobre o que tentamos explicar, ou seja, a transformação radical que
arredou do poder político o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), aboliu
a maioria da propriedade estatal, o planejamento centralizado e o sistema de
serviços sociais, e fragmentou o Estado multinacional. Argumentamos que a União
Soviética não colapsou porque o socialismo fracassou. Ao invés, o sistema
socialista baseado na propriedade coletiva ou estatal e no planejamento central
teve um assinalável êxito, em particular do ponto de vista do povo trabalhador.
O sistema provou ser capaz de assegurar um crescimento econômico sustentado
durante seis décadas, produziu notáveis inovações técnicas e científicas e
proporcionou benefícios econômicos e sociais sem precedentes a todos os
cidadãos. Ao mesmo tempo defendeu-se permanentemente da invasão externa, da
sabotagem e ameaças, e prestou ajuda econômica, auxílio técnico e proteção
militar a outras nações em luta pela independência e o socialismo.
A União Soviética, no
entanto, teve problemas - alguns relacionados com a ossificação política e
ideológica, outros ligados à quantidade e qualidade da produção da economia,
outros ainda derivados da confrontação com o imperialismo. No entanto, não
foram estes problemas que causaram o colapso do sistema. O que derrubou o
socialismo soviético foram as políticas prosseguidas por Mikhail Gorbatchov.
Essas políticas baseadas na crença de que os problemas do socialismo poderiam
ser resolvidos através de concessões unilaterais ao imperialismo e da
incorporação no socialismo de certas ideias e políticas do capitalismo. Estas
ideias tinham raízes no discurso político soviético, mas nunca haviam triunfado
de forma tão completa como com Gorbatchov.
O que permitiu que essas
ideias ganhassem ascendência foi o fato de nas três décadas anteriores se ter
desenvolvido dentro da União Soviética um setor pequeno-burguês, que se
enraizou sobretudo na economia privada ilegal. Esta chamada "segunda
economia", causou danos à primeira economia, desmoralizou uma parte da
população, corrompeu segmentos do partido comunista e do governo, e forneceu
uma base social para as políticas prosseguidas por Gorbatchov. Em vez de sarar
os problemas do socialismo, as políticas de Gorbatchov provocaram num curto
prazo o caos completo na economia e acabaram por derrubar o socialismo.
Crítica número 1.
Algumas críticas alegam que a nossa explicação ignora a causa profunda do colapso, isto é, que a tentativa de construir o socialismo na União Soviética estava condenada desde o início, devido ao insuficiente desenvolvimento das forças produtivas.
Não é uma tese nova. Em 1918, Karl Kautski afirmou que a Rússia não estava preparada para o socialismo. A ideia provém de Karl Marx e Friedrich Engels, que acreditavam que só o desenvolvimento completo das forças produtivas no capitalismo criaria as pré-condições para a abolição das classes, e baseia-se numa descrição do atraso da Rússia feita por Engels em 1875. De acordo com este ponto de vista, a União Soviética só poderia avançar para o socialismo permitindo primeiro o florescimento da iniciativa privada e o desenvolvimento das forças produtivas através de empresas mistas com capitais estrangeiros. Ambas as coisas teriam acontecido se a União Soviética tivesse continuado a chamada Nova Política Econômica (NEP), introduzida por Lênin em 1921. O corolário desta tese é a alegação de que a União Soviética só poderia ter evitado o colapso se enveredasse pelo caminho atual da China ou do Vietnam, o caminho da "economia de mercado com orientação socialista".
Esta explicação levanta problemas maiores.
Não é nada claro que o pensamento de Marx e Engels fosse, neste caso, a linha
adequada a seguir pelos comunistas soviéticos nos anos 20. Mesmo que as
condições soviéticas pudessem não ser as ideais para construir o socialismo,
Marx tinha bem a consciência de que, como disse em 1853, "os homens fazem
a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a
fazem sob circunstâncias da sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado".
Além disso, em 1917, a Rússia
não era um país tão atrasado como o descreveu Engels em 1875. Possuía algumas
das maiores fábricas do mundo, e dez por cento da sua população trabalhava na
indústria. Reconhecidamente, a nova União Soviética continuava a ser
essencialmente um país rural. Os líderes soviéticos, como Viatcheslav Mólotov,
reconheceram mais tarde que o atraso "afetou negativamente o
socialismo". Não obstante, aqueles que pensam que o atraso não só afetou
negativamente o socialismo como o condenou, defrontam-se com três objeções. A
primeira é a de que, por muito atrasada que estivesse no início dos anos 20, a
União Soviética não se manteve nessa situação. Tendo como vantagens recursos
naturais ricos, uma liderança talentosa e uma população motivada, a União
Soviética tornou-se na segunda potência econômica, apenas superada pelos EUA.
Em 1984, o economista Harry Shaffer escreveu: "Os Estados Unidos continuam
à frente da União Soviética em termos de produção bruta e per capita, de
consumo e nível de vida. Mas a União Soviética tem vindo a aproximar-se
gradualmente dos Estados
Unidos."
Unidos."
Assim, mesmo que no início
as forças produtivas estivessem num estado de atraso, tal não era certamente a
situação em 1985. Apesar de o desenvolvimento industrial da União Soviética ser
indiscutível, alguns acreditam, todavia, que o atraso original enfraqueceu
fatalmente o sistema. Erwin Marquit afirma que o atraso original levou os
soviéticos a recorrerem ao "modelo utópico da economia planejada", e
que essa economia planejada "provou ser incapaz de acertar o passo com
desenvolvimento tecnológico orientado pelo mercado no Ocidente". Isto não
é convincente. Com efeito é precisamente o oposto que é verdadeiro. Foi através
da propriedade estatal e do planejamento que a economia soviética fez progressos
notáveis, não só economicamente mas também tecnologicamente. Nos anos 80, o
desenvolvimento tecnológico soviético não igualava o dos EUA, mas não estava
longe, e aproximava-se gradualmente. Num livro sobre ciência e tecnologia
socialista, publicado em 1989, John W. Kiser III afirmou que a ideia do
"fosso tecnológico" era um exagero criado pela "crença
norte-americana na inferioridade inerente ao sistema soviético". Devido ao
fato de a União Soviética não incentivar a comercialização das suas realizações
tecnológicas, o Ocidente manteve "uma tendência persistente para as
subestimar". Kiser assinala, entre outros, os avanços tecnológicos nos
setores da metalurgia, química, indústria alimentar, biomedicina, alcançados
pelos soviéticos e países socialistas do Leste europeu.
Quanto à tecnologia
informática, em 1986, a CIA concluiu que existia um fosso entre a União
Soviética e o Ocidente em matéria de software e hardware, mas ressalvava que
"os soviéticos continuarão a fazer rápidos progressos em termos absolutos",
e em dez ou 15 anos "as instituições científicas de topo terão
provavelmente equipamentos comparáveis aos melhores que hoje dispõem os
laboratórios nacionais dos EUA". Por outras palavras, o fosso tecnológico
era pequeno e diminuía. Assim, o atraso tecnológico dificilmente pode explicar
de forma convincente o colapso. Um segundo problema da explicação baseada no
atraso tecnológico é a presunção de que a Nova Política Econômica (NEP), isto
é, a promoção do desenvolvimento através da iniciativa privada e do
investimento externo, seria uma opção real. É como afirmar que a Guerra Civil
norte-americana poderia ter sido evitada se o Norte permitisse que a
escravatura desaparecesse de modo natural. Apesar de esta ideia poder ser
apelativa para aqueles que culpam os abolicionistas pela carnificina da Guerra
Civil, poucos historiadores (caso haja algum) pensarão que tal era uma opção
real em 1860. De igual modo, continuar com a NEP não era uma opção real para os
soviéticos nos anos 20. Em 1921, os soviéticos viraram-se para a NEP para
resolver problemas criados pelas políticas do «comunismo de guerra», em
particular o desinteresse dos camponeses, provocado pelo confisco dos cereais.
No entanto, em pouco tempo, a NEP gerou os seus próprios problemas.
Explicando porque é que os
soviéticos abandonaram a NEP, o historiador E.H. Carr apontou três graves
problemas. O primeiro é a ocorrência da chamada "crise das tesouras"
em 1922-23, na qual a forte queda dos preços do trigo provocou penúria de
alimentos, desemprego e sofrimento para os camponeses pobres e médios. O
segundo foi a constatação por parte da maioria dos líderes soviéticos de que a
NEP condenava a União Soviética a um longo período de atraso industrial,
perspectiva aterradora e intolerável face à ameaça crescente de inimigos
externos. O terceiro foi o açambarcamento da produção pelos camponeses, devido
à queda dos preços agrícolas, provocando fome nas cidades. Por estas razões, a
dependência do mercado e da iniciativa privada tornou-se insustentável.
Assim, foram problemas
econômicos reais, bem como opções ideológicas, que levaram os líderes
soviéticos a adotar novas políticas e aderir à propriedade estatal e à
planificação centralizada. Nestas circunstâncias, chamar "utópica" à
passagem para a propriedade estatal e planificação central é absurdo. Esta
transição permitiu que a União Soviética se industrializasse num curto espaço
de tempo, derrotasse a invasão nazista e reconstruísse rapidamente o país
depois da guerra.
Além disso conseguiu ao
mesmo tempo aumentar progressivamente o nível de vida dos trabalhadores
soviéticos. Imaginar que a URSS poderia alcançar tais resultados, prosseguindo
as problemáticas políticas da NEP, é simplesmente tomar os desejos por
realidade. A explicação do colapso da URSS pelo atraso comporta um terceiro
ponto fraco, que se revela quando examinamos as lições que se podem tirar desta
explicação. É inteiramente apropriado avaliar a explicação através das lições
que dela decorrem. Por exemplo, se um pastor morre ao cair de um penhasco na
montanha, só um louco concluiria que se deve evitar o pastoreio e as montanhas.
No entanto, se no momento do acidente, o pastor estivesse bêbado, uma pessoa
razoável diria que se deve evitar beber quando se guardam ovelhas em encostas
montanhosas. Alguns dos que subscrevem a tese do colapso da URSS devido ao
atraso, concluem que a URSS deveria ter evitado a planificação central e
seguido o caminho da China atual. Mas esta conclusão é tão sensata como evitar
o pastoreio e as encostas montanhosas. No mínimo é irrefletida. Nem mesmo os
próprios chineses tiram esta conclusão do colapso da União Soviética. Segundo
afirma Arthur Waldron, "hoje, oficialmente, a China considera que nada de
profundo ou fundamental estava errado na União Soviética, mesmo na segunda
metade dos anos 80. De acordo com o discurso oficial, a falência da União
Soviética continua a não ser atribuível a um amplo fenômeno sistêmico mas, pelo
contrário, à falência muito específica do Partido Comunista da União Soviética."
Além disso, saber para onde
conduziria em última instância a via chinesa e o que tal significaria para a
classe operária, são questões que permanecem em aberto. A curto prazo, a via
chinesa produziu crescimento econômico e aumentou os rendimentos da população
urbana. No entanto, desde 2008, o declínio das taxas de crescimento econômico e
as dificuldades causadas à economia chinesa pela estagnação do mercado mundial
levantam dúvidas sobre a viabilidade futura deste modelo. Segundo o The New York Times, em março deste ano, o crescimento da China
"desacelerou para o nível mais baixo em mais de uma década".
Em simultâneo, a classe
operária chinesa está a pagar um preço elevado por uma via que se afasta
progressivamente dos objetivos do socialismo. Durante a última década o
desemprego não oficial nas cidades esteve sempre acima dos oito por cento. A
parte do capital e investimento estrangeiros no total das vendas da China
passou de 2,3 por cento em 1990 para 31,3 por cento em 2000. Como o
investimento direto na China (124 bilhões de dólares em 2011) tem vindo a
crescer anualmente, e apenas é superado pelo investimento estrangeiro nos
Estados Unidos, a percentagem do capital estrangeiro é hoje inquestionavelmente
maior do que em 2000. De resto, como constata um estudo recente, entre "os
resultados inevitáveis do desenvolvimento capitalista da China",
assinala-se o "aumento do desemprego, da desigualdade e da insegurança;
cortes nos cuidados de saúde e educação pública; agravamento da opressão das
mulheres; marginalização da agricultura; multiplicação das crises
ambientais". Na medida em que a economia de mercado com orientação
socialista é questionável enquanto via para o socialismo, também é questionável
a conclusão que se retirou do colapso da URSS.
Em suma, a tese do atraso
deve ser rejeitada por três razões. Primeiro, porque as forças produtivas da
União Soviética não estavam subdesenvolvidas em 1985, por maior que fosse o seu
atraso em 1917. Segundo, porque esta tese implica que a União Soviética deveria
e poderia ter continuado a NEP. Esta ideia era insustentável à época e
completamente fantasiosa em retrospectiva. Terceiro, se o caminho chinês ao
socialismo é mais confiável do que o soviético ainda está por
ser visto.
Crítica nº 2
Um segundo tipo de críticas ao nosso livro surge a propósito da abordagem a Josef Stálin. Para alguns críticos, o fato de não se ter denunciado Stálin como um paranoico, um criminoso, um anti-semita, um demônio, um ditador e um assassino de massas, constitui uma falha fatal. Alguns críticos só ficaram satisfeitos se subscrevêssemos o que Domenico Losurdo chama de "uma lenda negra". Para eles, o fato de não termos condenado a crueldade de Stálin constitui uma omissão imperdoável. A estes gostaríamos de responder como Lenin respondeu a Maxim Gorky, quando este manifestou preocupação sobre "a crueldade das táticas revolucionárias". Lenin respondeu: "Que quer você? (...) Será possível agir humanamente num combate com tal ferocidade sem precedentes? Haverá aqui lugar à brandura e à generosidade? Estamos sob bloqueio da Europa, privados da esperada ajuda do proletariado europeu, vemos por todos os lados a contra-revolução rastejar contra nós como um urso. Que devemos fazer? Não devemos, não temos o direito de lutar e resistir? Desculpe, mas não somos tolos. (...) Com que critério avalia a quantidade de golpes necessários e excessivos no combate?"
A verdade é que não fazemos
uma avaliação global de Stálin, porque consideramos que era um assunto
demasiado importante para ser tratado de forma superficial num estudo dedicado
a um tema diferente. Como qualquer historiador, levantamos uma questão
específica – neste caso, as causas do colapso da União Soviética – e
limitamo-nos a tentar responder a esta questão. Tratamos as ideias de Stálin e
as suas políticas apenas na medida em que se relacionavam com a nossa exposição.
Mas porquanto a crítica à
nossa abordagem de Stálin está ligada à nossa explicação do colapso, merece uma
resposta. Aqui temos de fazer uma distinção. Como é sabido, existe uma corrente
de pensamento, que remonta aos anos 20 e se estende até ao presente, segundo a
qual a União Soviética entrou em declínio inexorável desde que rejeitou as
ideias de Leon Trótski, sobre a necessidade de prosseguir a revolução
permanente ao nível mundial e a inutilidade de construir o socialismo num só
país. Deste ponto de vista, a União Soviética não construiu o socialismo, e o
seu colapso representou apenas uma nota de rodapé ao exílio de Trótski. Só
aqueles que aceitam estas premissas sobre a importância de Trótski e a ausência
de socialismo na União Soviética podem ficar satisfeitos com a explicação
trotskista da história soviética.
Todavia há outras visões
sobre Stálin e o seu papel no colapso da União Soviética. Uma dessas visões
sustenta que o colapso da URSS resultou das "deformações
stalinistas", uma espécie de efeito retardado das políticas de Stálin.
Esta tese reconhece que a União Soviética construiu o socialismo, baseado na
propriedade pública e na planificação, que funcionou bem proporcionando
crescimento econômico, defesa militar, emprego, segurança econômica, cuidados
de saúde, educação e um nível cultural elevado para os trabalhadores. Não
obstante, a luta contra o seu próprio atraso e contra as ameaças internas e
externas, bem como outros desafios, conduziram a deformações antidemocráticas.
Estas deformações manifestaram-se no «culto da personalidade, na sujeição
autoritária de toda a atividade social à disciplina e controle do PCUS, e na
subordinação de todo o pensamento e práticas científicas e culturais à
ideologia política".
De acordo com esta visão, a
economia planificada não constituiu um problema. O problema residia antes no
legado do autoritarismo stalinista. O autoritarismo de Stálin teria minado as
tentativas de descentralizar o controle e a responsabilidade, coartado a
iniciativa e impedido a realização do potencial da economia socialista.
Qualquer pessoa minimamente familiarizada com a historiografia ocidental
dificilmente estranhará que alguns autores culpem Stálin pelo colapso da União
Soviética, uma vez que toda uma série de outros lhe atribuem a responsabilidade
por praticamente todas as calamidades do século XX.
Uma figura tão complexa como
Stálin, líder de um vasto país que atravessou numerosas crises durante um
prolongado espaço de tempo, estava destinada a deixar um legado complicado.
Assim, pode-se facilmente admitir a existência dos problemas referidos por
aqueles que sustentam a teoria das deformações de Stálin. Por exemplo, na
economia planificada, onde a natureza e a dimensão da produção são definidas a
partir de cima, existe o problema endêmico da asfixia da iniciativa e da
responsabilidade em baixo. A União Soviética debateu-se com este problema
durante anos, e Cuba debate-se hoje com ele. Este problema não resulta apenas
de Stálin. Por seu turno, sem lhe chamarmos "deformações
stalinistas", reconhecemos que a dimensão e os métodos da repressão
"deixaram inquestionavelmente uma herança de ressentimento, timidez,
servilismo, remorso, e sabe-se lá que mais".
No entanto a história não
acaba aqui. Ao avaliar-se o legado de Stálin deve-se distinguir as apreciações
morais e políticas – ou seja, se determinadas atitudes e políticas foram boas
ou más, justificadas ou injustificadas, positivas ou negativas – das
apreciações históricas sobre os seus efeitos e consequências. Ambas são
legítimas, mas a questão que temos perante nós é matéria de apreciação histórica.
Ou seja: podem efetivamente as políticas de Stálin ser relacionadas com o
colapso da URSS? Honestamente, aqueles que defendem a tese das deformações de
Stálin pouco fizeram para levar a discussão do campo moral para o da explicação
histórica. Stálin deixou uma herança contraditória no que respeita ao
autoritarismo e democracia. Aqueles que subscrevem a tese das deformações de
Stálin apenas vêem um lado, afirmando que Stálin minou a democracia socialista,
desmoralizou e desmobilizou o povo soviético, e que isso, em última instância,
socavou a eficiência e a produtividade do sistema socialista, conduzindo-o, a
partir daí, ao colapso. Mas onde está a prova desta desmoralização e
desmobilização? As grandiosas realizações do povo soviético, entre os anos 30 e
os anos 50, a coletivização da agricultura, a rápida industrialização, o
aumento do nível educacional e cultural do povo, a derrota da invasão de
Hitler, a reconstrução do país em quatro anos, depois da devastação da guerra,
dificilmente traduzem o trabalho de uma população desmoralizada e
desmobilizada. Bem pelo contrário. Estas realizações exigem uma participação
popular ativa. Aliás, um olhar sóbrio sobre o legado de Stálin tem de
reconhecer que existem nele elementos de democracia e de participação popular,
bem como de autocracia e repressão. A Constituição Soviética de 1936 simboliza
esta herança ambígua.
Por um lado, apesar das
promessas democráticas da Constituição, a União Soviética permaneceu um Estado
em que o poder se concentrava no partido comunista e, de uma forma crescente,
no seu líder, onde as nomeações para cargos oficiais e outras se faziam a
partir de cima, e onde outras instituições, incluindo os sovietes e os
sindicatos, tinham, no melhor dos casos, uma função consultiva. Por outro lado,
a Constituição representou uma tentativa, pela primeira vez na história, sob
condições favoráveis, de dar um significado à ideia da democracia socialista. A
Constituição foi o resultado de dois anos discussão, em que largos segmentos
dos trabalhadores, camponeses e outras camadas foram envolvidos num amplo
debate nacional do projeto de documento, que foi seguido de um referendo
nacional.
A Constituição alargou os
direitos democráticos dos cidadãos soviéticos, levantando as restrições
eleitorais aos indivíduos associados ao regime tsarista e, ao mesmo tempo que
consagrou o papel exclusivo do partido comunista, também introduziu as
candidaturas múltiplas, o sufrágio secreto e as eleições diretas. Partindo das
constituições burguesas com uma perspectiva revolucionária, a Constituição
soviética instituiu direitos econômicos, onde se incluíram: o direito ao
emprego, férias pagas anuais, assistência médica gratuita, ensino gratuito até
ao sétimo ano inclusive, assistência estatal às mulheres com muitos filhos e mães
solteiras, licença de maternidade totalmente paga e acesso às maternidades,
enfermarias e jardins-de-infância.[1]
A Constituição de 1936
refletiu ainda um outro legado democrático, designadamente a política soviética
para as minorias nacionais. O historiador Terry Martin caracterizou a União
Soviética como "o primeiro império do mundo com ação afirmativa". O
que Martin quis dizer com isto foi que a União Soviética «criou não só dezena e
meia de grandes repúblicas nacionais, mas também dezenas de milhares de
territórios nacionais espalhados por toda a vastidão do país. Novas elites
nacionais foram instruídas e promovidas para cargos de liderança no governo,
escolas e empresas industriais desses novos territórios. Em cada território, a
língua nacional adquiriu estatuto de língua oficial do governo. Em dezenas de
casos isso implicou a criação de uma língua escrita, que não existia. O Estado
soviético financiou a produção em massa de livros, revistas, jornais, filmes,
óperas, museus, música tradicional e outras produções culturais em línguas não
russas. Nada de comparável tinha sido tentado anteriormente (...) e nenhum
Estado multiétnico igualou ulteriormente a escala da Ação Afirmativa
Soviética."[2] Segundo um estudo de opinião, realizado em 1950-51 pelo Harvard
Interview Project, que abrangeu centenas de cidadãos soviéticos, "a
maioria esmagadora" dos inquiridos sobre a Constituição de 1936 concordou
que as garantias estabelecidas sobre a igualdade das nacionalidades
correspondiam de fato à realidade.[3]
A ambiguidade do legado
autocrático e democrático de Stálin até se manifesta nas repressões dos anos
30. A campanha contra os trotskistas e sabotadores em 1937, que conduziu
milhões à prisão e milhares à morte, correspondeu a um movimento de massas
lançado nos sindicatos e nos locais de trabalho pelo alargamento da democracia.
O líder dos sindicatos, Nikolai M. Chvérnik, lançou este movimento no sentido
de aplicar nos sindicatos os direitos consagrados na Constituição de 1936, ou
seja, eleições secretas com múltiplos candidatos, um maior envolvimento das
bases e uma maior prestação de contas por parte das direções sindicais. Este
movimento estava de mãos dadas com a campanha contra o culto dos líderes, pela
erradicação dos dirigentes corruptos, dos oposicionistas dissimulados e outros
"inimigos do povo", que desviavam fundos dos sindicatos, violavam as
normas de segurança, sabotavam habitações, serviços sociais e a produção. Como
resultado deste levantamento a partir de baixo, no final de 1937, "mais de
um milhão e 230 mil pessoas foram eleitas em 146 sindicatos e em centenas de
milhares de organizações sindicais e comités de empresa (...) O resultado final
das eleições traduziu-se numa mudança radical de quadros. Mais de 70 por cento
dos antigos comités de fábrica, 66 por cento dos 94 mil presidentes de comités
de fábrica e 92 por cento dos 30.723 membros dos comitês plenários regionais
foram substituídos".[4] O que aconteceu nos sindicatos e locais de
trabalho em 1937 foi literalmente um movimento democrático a partir de baixo
para afastar e punir determinados líderes sindicais. O historiador Wendy
Goldman chamou-lhe uma "repressão democrática", e notou que esta
"repressão não constituiu um ato contra o povo soviético realizado por uma 'entidade' maléfica, mas foi
ativamente apoiada e difundida pelo próprio povo em todas as
instituições".[5]
Em suma, se olharmos
objetivamente para o legado de Stálin, não vemos ligações diretas entre Stálin,
o autoritarismo, a desmobilização popular e o colapso da URSS. Tanto no
enunciado da Constituição de 1936 como na política das nacionalidades e no
movimento de democratização dos sindicatos de 1937, pelo menos, ao contrário de
desmobilizar, Stálin mobilizou as massas. Aliás, se as políticas de Stálin
tivessem tido o efeito de desmobilizar e desmoralizar o povo soviético,
dificilmente a sua morte seria motivo de tão grande consternação, nem se
esperaria que passados 50 anos a sua personalidade continuasse a ser venerada.
No entanto, é precisamente isso que as sondagens mostram.[6]
Em suma, pode admitir-se com
facilidade que o legado democrático de Stálin é ambíguo. No entanto, só uma
visão muito unilateral e distorcida de Stálin poderá concluir que as
"deformações" de Stálin desmobilizaram politicamente as massas
trabalhadoras a tal ponto que foram a causa principal do colapso da URSS.
Uma terceira reação
A terceira reação ao nosso livro não é propriamente uma crítica, mas antes uma pergunta, colocada nos seguintes termos: por que razão o partido comunista e a classe operária soviética não se opuseram às políticas de Gorbatchov, sublevando-se em defesa do socialismo? No livro abordamos esta questão (pp. 267-273). É certo que o fato de a resistência das bases não ter sido grande, nem maior o seu êxito, constitui o aspecto mais perturbador em todo o processo da dissolução da União Soviética. Mas por muito perturbador que seja, este fato em si e por si não permite saltar para a conclusão de que havia alguma coisa errada no socialismo soviético ou que o socialismo soviético frustrou as expectativas dos trabalhadores de uma forma fundamental.
Gorbatchov pretendia que se
podia resolver os problemas do socialismo fazendo concessões aos imperialistas
e incorporando ideias do capitalismo no socialismo. Parte disto passava pela
introdução de aspectos da democracia burguesa, ao mesmo tempo que as
instituições tradicionais da democracia socialista eram minadas e
marginalizadas. Para se compreender a ineficácia da resistência da classe
operária não precisamos de ir muito além disto. Os comunistas e trabalhadores
soviéticos viram-se privados das vias tradicionais de expressão, ao mesmo tempo
que o seu líder formal introduzia gradualmente ideias capitalistas, embrulhadas
na noção de aperfeiçoamento do socialismo. Na nossa opinião, as coisas não tinham
de se passar desta forma. Reformas diferentes e um processo diferente de
reformas, que mobilizassem o partido comunista e a classe operária, poderiam
produzir resultados diferentes. Isto havia sido tentado por Iúri Andrópov, mas
o esforço foi de curta duração, devido à sua doença e morte.
Duas recentes visitas a Cuba
e um estudo sobre as presentes reformas em curso, chamadas «atualização»,
reforçaram a nossa conclusão sobre o destino do socialismo soviético.
Obviamente que a União Soviética e Cuba são dois países completamente
diferentes, com histórias e situações muito diferentes. Uma diferença
significativa foi o embargo econômico e comercial imposto pelos EUA a Cuba.
Apesar de a União Soviética também ter passado por um bloqueio econômico durante
duas décadas, o embargo a Cuba dura há mais tempo e o seu custo é relativamente
mais elevado. Hoje, passados 50 anos, segundo estimativas moderadas, o embargo
custou aos cubanos mais de 104 bilhões de dólares a preços correntes, e se
considerarmos a desvalorização do dólar em relação ao ouro, esse valor sobe
para 975 bilhões de dólares.[7] Sem o boicote, hoje, o nível de vida em Cuba
poderia ser semelhante ao da Europa Ocidental.[8]
Não obstante as diferenças
óbvias, Cuba e a União Soviética têm algumas características comuns. Ambas as
economias se baseiam na propriedade pública e na planificação centralizada,
dirigidas pelo partido comunista, e tanto a sociedade soviética em 1985 como a
cubana em 2011 enfrentavam problemas similares, embora em graus diferentes. Por
exemplo, ambas tinham duas moedas, uma convertível em divisas internacionais e
outra interna. A divisa soviética, interdita à maioria dos cidadãos, estava
limitada aos turistas, diplomatas e alguns outros representantes, e era usada
apenas nas lojas em divisas. Em Cuba, no entanto, a moeda convertível não é
ilegal, e muitos cubanos auferem legalmente rendimentos em pesos convertíveis,
por trabalharem na indústria do turismo, sob a forma de prêmios em certas
outras entidades, ou ainda provenientes de remessas de familiares emigrantes.
A existência de duas moedas
gera mais problemas em Cuba do que no caso da União Soviética. A grande
disparidade entre o valor do peso (CUP) e do peso convertível (CUC), na ordem
de 25 para 1, criou uma série de problemas, incluindo uma crescente
desigualdade entre aqueles que têm acesso à moeda convertível e os que não têm,
e uma fuga de cérebros de profissões sem salários em divisas para aquelas que
permitem esse acesso, como é o caso do turismo. Conduzir um táxi pode
proporcionar gorjetas em divisas de valor superior aos rendimentos de um
professor. Isto é claramente desmoralizador e ineficiente. Um outro exemplo de
um fenômeno presente nas duas sociedades é a segunda economia, ou mercado
negro. Na União Soviética a segunda economia constituía um problema maior do
que em Cuba. Na União Soviética a segunda economia existiu durante um período
mais longo, estava mais espalhada e desenvolvida, e ligada com frequência a
minorias nacionais e à "máfia" organizada.[9]
Em certos aspectos, os
problemas de Cuba e da União Soviética [nos anos 80] são semelhantes:
deficiências na produtividade e eficiência, qualidade insuficiente dos bens de
consumo, falta de iniciativa e de sentido de propriedade e responsabilidade no
local de trabalho, difusão insuficiente das tecnologias computacionais, etc.
Além disso pode-se encontrar facilmente semelhanças entre as soluções propostas
por Iúri Andrópov, em 1983 (e mesmo entre as políticas iniciais de Gorbatchov),
e o programa cubano de reformas de "atualização", proposto em 2011.
Por exemplo, nos dois casos as reformas visavam aumentar a eficiência, a
produtividade, a motivação e a qualidade através da recompensa do esforço, da
descentralização do controle e da responsabilidade, do desenvolvimento de
empresas mistas com capitais estrangeiros, de incentivos às cooperativas e da
concessão de maior latitude à iniciativa privada.
Mas os processos na União
Soviética e em Cuba diferem de forma flagrante. Em Cuba o processo de reformas
envolveu os comunistas de base e os trabalhadores de uma forma muito mais ampla
do que na União Soviética. Em Cuba, entre o desenvolvimento das orientações da
reforma em 2010 até à sua implementação em 2014, houve todo um processo que
implicou o envolvimento das massas e a construção de um consenso de massas.
O processo começou entre
dezembro de 2010 e fevereiro de 2011, com debates com o povo em geral,
seguiram-se debates no partido em todas as províncias, e por fim debates no VI
Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC) em abril. No total realizaram-se
163.079 reuniões, em que estiveram 8.913.828 participantes. Destes debates
resultou um importante conjunto de alterações: "O documento original continha
291 linhas de orientação, das quais 16 foram incorporadas noutras, 94
mantiveram a sua redação, o conteúdo de 181 delas foi modificado e foram
incorporadas 36 novas linhas de orientação, para um total de 311 no atual
projeto. (...) Aproximadamente mais de dois terços das linhas de orientação,
exatamente 68 por cento, foram reformulados." [10] O debate das linhas de
orientação decorreu ainda através de cartas publicadas no jornal Granma, em
programas de rádio, em blogs na Internet e nos sindicatos.[11] Um observador
anotou: "O elemento-chave aqui é que o projeto da nova lei laboral implica
um processo de consulta com a Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC) tão
detalhado e extensivo que os sindicatos têm de fato o poder de veto".[12]
Na União Soviética, Iúri
Andrópov iniciou as reformas econômicas com debates nos locais de trabalho.
Todavia, para Gorbatchov, os debates com as bases sobre as mudanças foram
sobretudo uma oportunidade para promover a sua imagem pública. Os amplos
debates, o estímulo à crítica e a construção de consensos estiveram
praticamente ausentes no processo de reformas de Gorbatchov. Se tivesse sido de
outro modo, será que hoje nos interrogaríamos sobre onde estavam os comunistas
soviéticos e os trabalhadores?
Mas se os dois tipos de
críticas ("o atraso soviético" e "as deformações de
Stálin") não são convincentes, por que razão continuam a ser tão
populares? Na nossa opinião a razão da popularidade destas explicações é que
elas decorrem e dependem da omnipresente ideologia do anti-stalinismo e do
anticomunismo. O anticomunismo e o anti-stalinismo não são meras discordâncias
com o sistema socialista ou com as políticas de Stálin, antes consistem na
apresentação deste sistema e deste homem como o pior mal do mundo. Para a
maioria dos intelectuais ocidentais o dogma de que "Stálin é um
monstro" não é susceptível de discussão. É um axioma. Pior, é um tabu. É a
chave-mestra que dá acesso à família de autores admitidos pela ideologia
dominante. Os acadêmicos dos EUA, mesmo aqueles com pontos de vista não
ortodoxos, inscrevem rotineiramente referências hostis a Stálin nos seus
trabalhos, mesmo quando não incidem sobre a história da União Soviética, para
assim garantirem a sua aceitação política.
A razão de o anti-stalinismo
continuar a ser a pedra-de-toque merece mais atenção do que tem tido.
Recentemente, acadêmicos como Domenico Losurdo e Grover Furr[13] lançaram luz
sobre esta questão. A circunstância de a demonização de Stálin ter o apoio de
toda a esquerda, graças a Trótski e a Khruchov, é seguramente um dos fatores.
Uma outra razão é o facto de Stálin ser o símbolo personificado da URSS entre
1924 e 1953, o período do êxito da construção do socialismo, e também o período
em que o Estado soviético era o maior inimigo do imperialismo. Seja qual for a
razão, para os marxistas, como são alguns dos nossos críticos, condescender com
estereótipos anti-Stálin e polemizar na sua base, deve ser entendido como uma
concessão oportunista à pressão da ideologia da classe dominante. Evidentemente
que a rejeição do anti-stalinismo não equivale à beatificação de Stálin, a um
amontoado de elogios à sua pessoa, ou ainda menos ao escamoteamento dos
problemas associados à sua liderança. Significará antes, um trabalho acadêmico
paciente, que use os mesmos critérios que são requeridos para avaliar qualquer
líder do século XX.
Conclusão
As principais críticas levantadas contra os argumentos do Socialismo Traído não resistem a um escrutínio rigoroso. A ideia de que a União Soviética estava condenada por um defeito congênito, a saber, o atraso das forças produtivas, agrada sobretudo àqueles que sonham com um avanço gradual para o socialismo, e àqueles que pensam que os chineses descobriram a estrada de ouro para o futuro. No entanto, tal ideia implica que se ignore os problemas gerados pela NEP nos anos 20 e na China hoje, e significa subestimar as difíceis opções que os soviéticos tiveram de fazer nos anos 20 e 30, bem como os tremendos progressos que fizeram para superar o atraso.
Conclusão
As principais críticas levantadas contra os argumentos do Socialismo Traído não resistem a um escrutínio rigoroso. A ideia de que a União Soviética estava condenada por um defeito congênito, a saber, o atraso das forças produtivas, agrada sobretudo àqueles que sonham com um avanço gradual para o socialismo, e àqueles que pensam que os chineses descobriram a estrada de ouro para o futuro. No entanto, tal ideia implica que se ignore os problemas gerados pela NEP nos anos 20 e na China hoje, e significa subestimar as difíceis opções que os soviéticos tiveram de fazer nos anos 20 e 30, bem como os tremendos progressos que fizeram para superar o atraso.
A ideia de que o colapso da
URSS em 1991 se deveu ao autoritarismo de Stálin nos anos 30 assenta numa
montanha de preconceitos contra Stálin e numa leitura unilateral do seu legado
que ignora os seus marcados elementos democráticos. Finalmente, a ineficácia da
resistência dos comunistas de base e dos operários à destruição do socialismo
não prova a existência de problemas profundamente enraizados do socialismo
soviético. Mostra no entanto que a destruição da propriedade socialista, da
planificação, dos benefícios sociais e do internacionalismo exigiram a erosão
simultânea da autoridade do partido comunista e das instituições da democracia
socialista. Se alguma coisa boa adveio do colapso da URSS foi o fato de Cuba
parecer ter aprendido a lição.
Notas
[1] Leonard Schapiro, The Communist Party of the Soviet Union (New York: Vintage Books, 1971), 409; Kenneth Neill Cameron, Stalin: Man of Contradiction (Toronto, NC Press Limited, 1987), 80-81.
[2] Terry Martin, The Affirmative Action Empire: Nations and Nationalism in the Soviet Union, 1923-1939 (Ithaca and London: Cornell University Press, 2001), 1-2.
[3] Martin, 387-389.
[4] Goldman, 14.
[5] Goldman, 19.
[6] Richard Pipes, “Flight from Freedom: What Russians Think and Want,” Foreign Affairs (May/June, 2004), 14.
[7] Cuba vs Bloqueo: Relatório de Cuba sobre a Resolution 65/6 da Assembleia Geral das Nações Unidas intitulado “Necesidad de poner fin al bloqueo económico, comercial y financiero impuestopor los Estados Unidos de América contra Cuba” (July 2011), 54.
[8] Interview of Manual Yepe, Havana, Cuba, February 18, 2014.
[9] Interview of Marta Nunez, Havana, Cuba, February 18, 2014.
[10] “Information on the results of the debate on the Economic and Social Policy Guidelines for the Party and the Revolution”, traduzido por Marce Cameron, 2.
[11] Steve Ludlam, “Cuba’s Socialist Development Strategy,” Science & Society 76, no. 1 (January 2012), 47.
[12] Ludlam, 51.
[13] Domenico Losurdo, Staline: Histoire et Critique D’Une Légende Noire and Grover Furr, Khrushchev Lied (Kettering, Ohio: Erythros Press and Media, 2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SUA OPINIÃO!
responderei.